sábado, 3 de outubro de 2009

Capítulo 1 - O Sonho

Acordei completamente assustado.
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Minha camisa estava encharcada de suor e o meu coração martelava desvairado contra o peito. Mesmo estando na segurança de minha cama, sentia como se o pesadelo ainda não tivesse acabado... como se o ser produzido pelo meu subconsciente pudesse estar ali, escondido nas sombras da madrugada, só esperando para me atacar.
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Fechei os olhos novamente e procurei respirar fundo.
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Eu sabia que estava sendo irracional. Tudo aquilo não passava de um sonho; um sonho aterrorizante que - noite sim, noite não - povoava os meus pensamentos há mais de um mês.
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Um minuto após o meu despertar, a porta do quarto foi aberta com energia - e sob a luz fraca do corredor achava-se um homem alto e esguio, seus cabelos escuros emaranhados de uma forma estranha no topo de sua cabeça, o rosto magro e bonito deformado em uma careta dura de preocupação.
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-Adrian, o que aconteceu... você está bem?
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-Estou sim, pai - murmurei, sentido o sangue se concentrar em minhas bochechas - Foi só um maldito pesadelo...
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-Ah, claro! - no mesmo instante, a face de Cirus se descontraiu - Nossa garoto, você me assustou!!!
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- Desculpe.
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Isto era tudo o que eu podia falar sem entregar o medo que me consumia por dentro. Mas no segundo seguinte, uma intuição estranha se apoderou de mim, fazendo minhas bochechas ficarem ainda mais vermelhas .
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-Pai, por acaso eu não gritei... gritei?
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Sem se deter em meus olhos, Cirus se aproximou de onde eu estava e, com um longo suspiro, confirmou as minhas suspeitas.
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-Ai meu Deus! - me encolhi, completamente envergonhado - Me desculpe, é sério.
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- Mas o que é isso, Adrian? - perguntou meu pai, uma de suas sobrancelhas erguida de incredulidade - Você sabe que não tem pelo o que se desculpar!
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Mas é claro que eu tinha. Afinal, se não fossem por minhas ''particularidades'', talvez aquele sonho fosse menos assustador - talvez eu nem tivesse esse tipo de sonho.
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Percebendo a minha expressão preocupada, Cirus se sentou na beirada de minha cama, erguendo sua mão direita e a colocando sobre um dos meus ombros.
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-Você não está se martirizando de novo, está? - instigou ele, um dos cantos de sua boca se curvando em um meio sorriso - Por que se estiver, sabe que esta situação não exige tanta atenção quanto você imagina.
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-Não exige? - me ouvir dizer com a voz estrangulada.
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- É claro que não - respondeu ele simplesmente - Não precisa ter vergonha de seus medos, filho. Isso é tão normal quanto respirar...
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-Humpf ! - bufei indignado, antes mesmo dele completar o discurso.
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Normal? Ele só podia estar brincando.
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- Hei, não vamos discutir, está bem?- Cirus arfou, a indignação transparente em seus olhos cinzentos - Sabe muito bem o que penso sobre isso... E além do mais, é de conhecimento de todos a sua leve tendência a exagerar tudo o que acontece.
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-''Leve tendência a exagerar tudo o que acontece''! - repeti, não acreditando no que havia acabado de escutar. Ele só podia achar que eu tinha a personalidade de uma garota mimada de 12 anos - Bom pai, acho que está na hora de voltarmos a dormir.
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-É claro que está - concordou ele, o meio sorriso voltando a estampar o seu rosto jovial - Mas antes de voltarmos a dormir, preciso perguntar uma coisa...
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Naquele pequeno segundo de antecipação, meu coração parou.
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Eu já sabia exatamente sobre o que seria a pergunta dele. Pois assim como eu, meu pai também era um Arcano... E assim como eu, ele tinha certeza que eu não acabara de ter um sonho comum.
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E era esse exatamente o problema. Ás vezes, para um Arcano, os sonhos podem dizer bastantes coisas. Coisas que não fomos capazes de ver durante o dia, e que a noite nosso subconsciente tentava nos alertar sobre o que estávamos deixando passar despercebido. Mas por mais que eu pensasse, nada estava me passando despercebido. A vida em Ventura continuava a mesma - pacata e sem atrativos, com cada um tentando bisbilhotar ou inventar alguma coisa sobre a vidinha monótona do outro.
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Então, por que essa droga de sonho não me deixava em paz? Será que, finalmente, a minha mente entrara em parafuso? Será que enfim estava enlouquecendo? Eu não duvidava nada. Acho que não são muitas as pessoas que podem ver as coisas que eu vejo e que continuam sãs...
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-Filho, - como uma britadera perfurando o concreto, a voz de Cirus me atingiu e me remoeu, meus vagos pensamentos se dissipando para longe de mim - afinal, que sonhos são esses que você anda tendo ultimamente? Você realmente acha que são apenas sonhos?
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Nossa, além de tudo ele foi direto no ponto!
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- Eu... eu... quero dizer, sim! - Menti, com a minha melhor cara de inocente - Pelo menos, acho que sim. Sabe como sou, provavelmente não deve ser nada demais.
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- Hum, então você deve estar certo - replicou meu pai, com um olhar que dizia ''Você é o Pior Mentiroso do Mundo''. - Acho que realmente está na hora de dormirmos; Afinal, amanhã é dia de escola, não?
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- Nossa, ótimo lembrete! - resmunguei entre os dentes.
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Sem dúvida alguma, esta deve ser a melhor maneira de se terminar um dia: acordar gritando no meio da noite devido a um pesadelo assustador e voltar a dormir pensando no ''grande'' dia que teria na Academia Constantine.
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São só mais sei meses, eu pensei. Só mais seis meses, e você vai estar livre daquele lugar!
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Bom, não era pedir muito de mim, era? Afinal, depois de Onze anos de total apatia e exclusão, esperar por apenas mais um semestre não seria nada. Acho que no fim, o purgatório até poderia ser um lugar acolhedor e com pessoas amáveis, não é mesmo?
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Tudo bem, a quem estava enganando - Não consigo mentir nem pra mim mesmo.
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- Isso aí, pensamento positivo! - Com uma última piscadela, Cirus se levantou e caminhou de volta para o seu quarto, me deixando completamente sozinho e perturbado.
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Sabe, eu gosto muito do meu pai, reconheço todo o trabalho que ele teve para me criar sozinho, mas definitivamente nós não estávamos na mesma sintonia. Isto era um fato irrefutável.
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As horas se passavam e eu não conseguia voltar a dormir. Minha cabeça estava trabalhando a mil por hora, e visões indistintas do meu pesadelo vinham a tona todas as vezes que tentava fechar os meu olhos. Já eram 1h da manhã, e a única coisa que se fixava em minha mente era que eu tinha que fazer alguma coisa.
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Com um salto, me pus de pé e fui para o banheiro.
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Ironicamente, sempre achei o banheiro um ótimo lugar para se clarear as idéias. Talvez fosse a cor, talvez fossem as luzes, quem sabe poderia ser a acústica, mas qualquer que fosse a explicação, era lá que eu encontrava as respostas para as minhas perguntas. E foi isso que eu fui fazer. Encontrar a resposta para uma pergunta que nem eu sabia qual era.
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Completamente exausto, tirei a minha roupa e me enfiei debaixo do chuveiro. Por mais gelada que estivesse a água, aquilo estava me deixando mais relaxado. Quase pude ver os meus músculos se descontraindo sob a pele e a minha pulsação acelerada se acalmar. Depois de cinco minutos, saí do box renovado. E o melhor, meu cérebro parecia estar trabalhando de uma forma tranquila, e não alucinada como estava antes da ducha.
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Sentindo-me calmo e tranquilo, me enrolei na toalha e segui em direção ao grande espelho sobre a pia. Já que estava no banheiro e sem um pingo de sono, iria aproveitar a ocasião pra fazer a droga da minha barba - o que me pouparia o trabalho na manhã seguinte, me dando mais tempo livre para ficar em casa antes de ir para a escola.
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Foi então que o meu cérebro deu um click.
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Só ao me olhar no espelho foi que me dei conta que o antagonista do meu sonho era extremamente parecida comigo. Não com a minha aparência, é claro - ela não tinha os olhos cinzentos e os cabelos escuros como eu, muito menos a minha altura ou meu porte físico de nadador. Ao contrário, o ser era comprido ao extremo, passando de longe os meus 1,80. E diferente de mim - que devido a minha condição, sou forte porém magro - cada centímetro dele parecia exalar uma força bruta e cruel, quase que invencível.
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Na verdade, o que me fez lembrar dele foi algo que me pertubou durante todo o tempo em que estive inconsciente, e só agora parecia brotar do fundo da minha mente.
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O vilão que me atacava quase todas as noites e me faziam despertar de medo era um homem... Ou, ao menos, parecia ser um.
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E era isto o que me deixava preocupado.
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Me esquecendo por completo do que iria fazer, recoloquei as minhas roupas e voltei para o meu quarto. Com um movimento rápido, abri a janela e me pus a observar a cidade.
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Tudo continuava no seu devido lugar... Ao fundo eu podia enxergar as belas colinas de Ventura recortando o horizonte, a luz da lua resplandecendo no topo das árvores mais altas; já as ruas desertas eram iluminadas apenas pelos lampiões e os antigos prédios góticos do centro estavam no escuro, sua arquitetura antiquada sempre me lembrando uma catedral gigantesca que não parava de crescer.
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Por mais calmo que parecesse a paisagem, aquela visão não me deixou nenhum pouco tranquilo. Pelo contrário, observar a cidade mergulhada no silêncio me deixou ainda mais apreensivo.
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Definitivamente, a calma que eu havia recuperado com o banho estava se esvaindo pelos meus poros pouco à pouco. Minha mente era tomada de assalto por uma enchorrada de perguntas - e as mais preocupantes pareciam grandes letreiros de néon diante de mim.
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Será que os meus sonhos estavam sendo realmente um sinal? Ou melhor, será que o ser aterrador poderia estar naquele exato momento em algum beco escuro de Ventura, oculto pela sua falsa humanidade, só esperando para atacar? Sem sombra de dúvidas eu gostaria de ter as respostas para essas perguntas, mas infelizmente não tinha.
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Então fiz a única coisa que me parecia cabível naquele hora: fechei as janelas do meu quarto, voltei para debaixo das cobertas, e obriguei o meu cérebro a se desligar de tudo e tentar dormir... De nada adiantaria eu continuar acordado, me forçando a encontrar algo que ainda estava inacessível a mim. Por enquanto, eu sabia de tudo que era para saber.

4 comentários:

  1. aaai, coomeçando a leer tuuudo again *-* UIASHDASIUODHSID booa sorte nessa jornada Henri, vc deve ta tendo mo trabalhao pra mudar a historia em ? maaas qlq coisa estou aki, te apoio total *-* USIADHASIDU e nem precisa falar que a historia é mto linda né ? *-* to crareca de tanto falar isso -qqq, UIADHSIDU

    beeijos :*

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  2. meeeu eu vi que vc vai ter que reescfever, e eu nao tive a oportunidade de ler a original, mas pelo pouco que eu li aqui eu ja estou amando essa historia!
    parabens pela criatividade e talento - que vc tem ambos de sobra haha
    xx

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  3. Gostaria muito de ler a continuação desta história maravilhosa. Por favor não demore muito à postar mais capítulo.

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