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Do lado de fora da Casa-de-Bombeiros, uma chuva torrencial caía pelas ruas de Ventura, e nuvens negras e carregadas espiralavam erroneamente sobre o outrora céu azul da cidade. No café da manhã, nem eu, nem Cirus ou Angel trocamos palavra alguma. A tensão do que iríamos fazer pairava de forma ameaçadora diante de nossas cabeças, e a forte sensação de impotência que me tomava desde o início da semana não estava ajudando em nada para melhorar o clima na mesa.
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- Acho que está na hora de irmos - anunciou Cirus com sua voz grave, quebrando o silêncio que se instaurava na cozinha assim que os ponteiros do relógio de parede marcaram oito horas em ponto.
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Maquinalmente, nós três nos levantamos e fomos para a garagem - Angel responsável por abrir o portão enquanto meu pai dava vida ao velho Mustang 64.
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Antes de entrar no banco traseiro do carro, olhei demoradamente para o meu skate encostado displiscente em nossa máquina de lavar roupas. Quase que de imediato, me lembrei do dia em que Alexander Morton manipulara as minhas emoções e as de Oliver Nigro, só para demonstrar o que poderia acontecer se eu interrompesse os seus planos de vingança.
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- Relaxa, Adrian... Nada de mal vai acontecer hoje - murmurou Angel, interpretando certo a preocupação que se refletia em meu rosto.
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Meneando a cabeça em sinal de aceitação, entrei no automóvel vermelho e esperei meu pai dar a partida e manobrar a nossa saída da garagem escurecida pela tempestade.
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Para nossa sorte, Cirus conhecia muito bem o caminho; então, em menos de 30 minutos fazíamos a curva na Rodovia Principal dos Três Estados e entrávamos no espaçoso - e temporariamente alagado - pátio gramado da gigantesca casa vitoriana que abrigava o Hospital Psiquiátrico de Santa Fé.
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Correndo para não ficarmos ensopados, invadimos o delicado hall de entrada da casa de repouso, respigando gotas de chuva por todo o chão encarpetado e caminhando com cautela na direção do fim do saguão - onde, por detrás de uma extensa bancada de granito, uma enfermeira velha e atarracada nos aguardava, sua expressão indicando poucos amigos.
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- O que os senhores desejam? - retrucou a mulher com maus modos, antes mesmo de chegarmos ao balcão de informações.
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- Bom dia - cumprimentou Cirus, não se deixando intimidar pela grosseria gratuita da enfermeira - estamos aqui visitar a paciente Suzana N. Leniscky.
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Por um breve segundo, a recepcionista franziu toda a sua cara ofídica canhestramente, seus olhos aquosos nos avaliando de cima à baixo com desconfiança.
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- A senhorita Leniscky não pode receber visitas de amigos - resmungou a mulher, nos encarando com desprezo - Restrições parentais... acho que compreendem.
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Não, eu não compreendia... E estava prestes a dar meia volta daquele lugar quando, em um átimo de segundo, Angel debruçou-se sobre o balcão de mármore e segurou com força as duas mãos da recepcionista – seus olhos grandes e azuis fixos no rosto enrugado da mulher.
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- Você irá nos levar ao quarto onde está a paciente Leniscky – sussurrou minha tia, sua voz clara e hipnotizante como o canto de um pássaro – E não irá contar nada disso a ninguém. .. A senhora entendeu o que estou dizendo?
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Com o rosto estático de admiração, a velha recepcionista balançou molemente a cabeça em concordância, se libertando sem pressa do aperto de Angelina e pegando um grosso molho de chaves guardado em um claviculário de madeira trabalhada fixado na parede à suas costas.
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- Como... Como você fez isto?! – exclamei, não acreditando no que os meus olhos haviam acabado de ver.
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- Isto não foi nada! – retrucou Cirus com impaciência – E escute aqui mocinha, você sabe muito bem o que eu penso quanto a usarmos este tipo de artifício em pessoas normais, não?
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- Eu sei mano, eu sei... – respondeu Angel, massageando as têmporas com as pontas de seus dedos. – Você sabe que eu também odeio ter que fazer isto... Mas hoje era necessário.
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Sem trocar uma única palavra, os dois bufarão em uníssono e seguirão a velha enfermeira encarquilhada por um longo corredor que se estendia ao lado esquerdo do Hall de Entrada da casa de repouso. Não perdendo tempo, acompanhei Cirus e Angel a uns dois passos de distância, repassando mentalmente o que havia acabado de acontecer – ainda não sabendo ao certo se o momento realmente existira ou se não passava de um mero delírio de uma mente já à tempos não muito sã.
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De qualquer forma, me peguei imaginando como tia Angelina havia conseguido induzir a recepcionista a fazer o que ela queria. Pois, sendo a minha imaginação ou não, ela havia usado um dom de Arcano que eu desconhecia e que meu pai não aprovava – o que significava que eu tinha que aprender a fazer aquilo de alguma forma.
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- Por aqui, por favor – sibilou a senhora, apontando para uma longa escada em caracol, seus olhos aquosos ainda fixos e abobalhados.
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Em completo silêncio, nós quatro rodopiamos até o topo, desembocando em um pequeno patamar retangular – suas pareces brancas cheias de rococós e cobertas de cima à baixo por vasos abarrotados de grandes e luxuriantes margaridas.
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- Este é o quarto dela – disse a recepcionista, caminhando em passos lentos na direção da única porta presente no lugar, enquanto recolhia com dificuldade uma pequena chave do molho em suas mãos – Vocês têm meia hora... Entrem.
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Sem o menor interesse no que iria acontecer, a mulher saiu da frente para podermos passar e fechou a porta atrás de nós com um ruidoso click. Um segundo depois, me vejo parado à entrada de um loft espaçoso e muito bem iluminado. Basicamente, o que imperava ali era o antigo, com direito a pé-direito alto, ornamentos em gesso e piso tipo piquê, rodeado de janelas longas e estreitas por todos os lados.
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Seria um quarto típico para uma princesa se não fosse por um pequeno detalhe: o toque pessoal da própria Suzana N. Leniscky.
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- Mas o que esta garota tem na cabeça?! - sussurrou Angel, seu rosto não escondendo nem um pouco a indgnação que sentia pela decoração implantada pela dona do lugar - Ela simplesmente acabou com isto aqui...
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O que não deixava de ser verdade.
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Afinal, a grande cama de dossel que se encontrava no meio do loft parecia não ver uma arrumação à séculos; amontoado-se pelas paredes, dezenas e mais centenas de ilustrações sombrias e macabras de caveiras, monstros obscuros e símbolos esquisitos se agrupavam uma em cima da outra como folhas mortas no outono - isso sem falar na figura solitária e magricela que se encolhia em uma pequena poltrona rosa no canto mais escuro do quarto.
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- Hum... então essa é a noiva do demônio.
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- Angelina! - exclamou Cirus, claramente constrangido pela situação em que se encontrava. - Será que você poderia ser um pouco menos rude, e expressar as suas opiniões um pouco mais baixo?
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- Ah, mas nem à pau! - cuspiu minha tia, cruzando os braços com força por sobre o peito - A doida aqui simplesmente d-e-s-t-r-u-i-u o quarto dos sonhos de qualquer garota no mundo inteiro... Já são menos 15 pontos contra ela!
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- Menos 15 pontos?! A coitada foi internada em uma Casa de Repouso...
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Fazendo questão de ignorar os resmungos raivosos e as farpas trocadas por meu pai e Angel, me aproximei demoradamente da namorada de Alexander Morton, observando estupefado o estado atual da garota.
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Assim como o quarto que ocupava no Hospital Psiquiátrico de Santa Fé, Suzana N. Leniscky um dia fora bonita. De longos cabelos prateados e grandes olhos azuis, sem dúvida alguma a menina deveria parar quarteirões no seus tempos aureos. Querem saber um detalhe assustador nisto tudo? Seu porte físico era muito parecido com o de minha tia. Porém, enquanto uma exalava joviedade e simpatia, a outra dava a impressão de estar se preparando para encarnar a Morte em alguma produção teatral de grandes proporções.
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- Er... Senhorita Suzana - murmurei, não sabendo muito bem por onde começar - Será que podemos conversar?
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Por um longo espaço de tempo, não obtive resposta alguma... E já estava prestes a desistir de qualquer contato quando, finalmente, a jovem desgrudou os olhos imensos do livro grosso e mofado que segurava com força em seu colo e se voltou para mim, como se tivesse acabado de perceber a minha presença em seu quarto.
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- Quem são vocês? O que estão fazendo aqui?
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A típica pergunta. Para minha sorte - antes que eu respondesse qualquer besteira - Cirus e Angel haviam parado de se comportar como dois pré-adolescentes e se postaram ao meu lado, obrigando a jovem a dividir sua atenção em nós três.
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- Olá, Suzana - cumprimentou meu pai, da forma mais afável possível, se agachando perto da poltrona rosa e ficando na linha de visão da garota - Eu me chamo Cirus, e estes são o meu filho Adrian e minha irmã Angelina... Nós estamos aqui por que descobrimos pelo o quê você anda passando ultimamente e gostaríamos de oferecer a nossa ajuda.
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- Que tipo de ajuda? - perguntou Suazana, obviamente entrando no estado de ''defensiva-agressiva'' - O que vocês pensam que sabem sobre mim? Eu não chamei ninguém... Não preciso de ninguém!
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- É, dá para notar isto à quilômetros - disse Angel, a impaciência crescente e visível à cada segundo - Mas não é toda garota que tem o privilégio de receber continuamente as visitas do namorado morto, não é mesmo?! Me diz aí, qual é o seu segredo?
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Se antes Suzana estava doentiamente pálida, agora ela ficara mortalmente lívida. Por um instante, pensei que ela iria arrancar o rosto de Angel usando apenas as suas unhas compridas e mal cuidadas, mas tudo o que a jovem fez foi segurar com ainda mais força o livro velho que tinha nas mãos e se levantar da poltrona, andando imperiosamente até sua cama antiga e desarrumada - o mais longe o possível de onde estávamos.
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- Eu não sei do que você está falando - disse ela por fim, fazendo questão de não nos olhar no rosto. - Acho que estão cometendo um grande engano.
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- Ah, não estamos não! - exclamou Angel, com direito a um leve bater de pernas irritadiço - Você sabe sobre o que estamos falando, e não vai adiantar nada tentar proteger aquele demônio que se passa por seu amiguinho... Nós vamos pegá-lo, ou não me chamo Angelina Regis!
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- Nossa... você é uma louca mesmo, não?
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E com aquela simples frase, Suzana N. Leniscky ativou uma verdadeira bomba atômica.
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- Mas do quê você me chamou?! - antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, Angel pulou sobre a garota como um gato e a empurrou com toda a sua força contra o colchão emaranhado - Não sou eu que estou presa em um Hospital Psiquiátrico!... Não sou eu que ando tendo encontros secretos com um namorado-demônio!... Quem é a louca aqui? Quem?
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- Tudo bem! Tudo bem! Eu falo o que vocês quiserem... - gritou Suzana, entre uma e outra sacudida que levava - Mas tirem essa garota de cima de mim!
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Em um milessegundo, Cirus e eu tiramos Angel de cima da garota e a empurramos na direção da poltrona rosa. Respirando com força, minha tia olhou com satisfação para as duas marcas arroxeadas que haviam ficado ao redor do pescoço pálido e mascilento de sua oponente, as mãos ainda se contorcendo como se fossem garras - prontas para voltarem ao trabalho no menor sinal de descuido meu ou do meu pai.
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- Aonde você estava com a cabeça? - berrou Cirus, uma veia grossa e feia saltando bem no topo de sua testa.
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- Ninguém me chama de louca e fica impune - comentou Angel, calma e friamente, seus olhos azuis ainda fixos na direção de Suzana - Nem mesmo se esse alguém estiver sob cuidados médicos...
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- Acho que todos deveríamos nos acalmar - eu disse por fim, olhando para todos com extrema cautela.
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Durante alguns minutos, tudo o que nós quatro fizemos foi apenas respirar. Se antes eu achava que aquele dia não ia dar em nada, agora eu tinha absoluta certeza. Tentando recolher um pouco do leite derramado, Cirus se aproximou cuidadosamente de Suzana e a encarou, seu corpo encobrindo de maneira estratégica a visão que a garota teria de minha tia descontrolada sentada à poucos metros de distância de sua cama.
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- Pode parecer algo estúpido para se dizer agora, mas começamos com os dois pés esquerdos.
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- Eu concordo plenamente - resmungou Suzana, os braços longos e finos apertados com força sobre o peito - Porém eu concordei que iria responder o que vocês quisessem, e é isto que vou fazer.
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Atrás de nós, Angel soltou um moxoxo alto de descrença.
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- Tudo bem - continuou a garota, fazendo questão de ignorar a grosseria de minha tia - Antes de qualquer coisa, eu gostaria de saber uma única coisa... Como vocês descobriram o que está acontecendo com o Alex?
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Não havia acusação na voz de Suzana, apenas curiosidade. Tudo bem, seus olhos brilhavam loucamente e sua boca se erguia em um leve sorriso doentio, mas no fundo era apenas curiosidade.
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- Hum, digamos que nós somos... ''especialistas'' em assuntos sobrenaturais - respondeu meu pai, sendo o mais sucinto (e vago) o possível - Mas, não querendo ser grosseiro, eu gostaria de ser um pouco mais direto...
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- E com isto ele quer dizer ''ir logo ao assunto'' - disse Angel ao nosso lado, já recuperada de seu ataque, apesar de ainda irradiar uma fúria austera e gélida pelo ar ao seu redor - Será que você poderia nos dizer quando foi o seu primeiro encontro com Alexander Morton... depois que ele morreu?
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Meneando a cabeça em aceitação, Suzana colocou o livro que ainda segurava de lado e nos encarou de forma deliberada, seu sorriso torto se aprofundando em um estado de profunda satisfação; obviamente, entrar em uma conversa sobre o seu namorado ''fantasma'' era um prazer para ela.
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- Ah, o Alex... Sabiam que eu estava falando com ele quando aconteceu o acidente? - disse a garota sonhadoramente, seu corpo frágil parecendo vibrar de excitação - O doido conversava comigo enquanto dirigia o carro.
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- Ele.. ele... estava com você no telefone quando... morreu? - perguntei, sentindo um gosto forte de bile começar a subir pela minha garganta - Sobre o que ele dizia?
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- Nada demais... Só me pediu em casamento - respondeu Suzana, avaliando as grossas camadas de cutículas em suas unhas - Mas é claro que eu não o levei a sério, o cara estava completamente chapado! Ficava repetindo que aquele era ''o melhor dia da vida dele'', e que ''não via a hora de invadir o meu cobertor'' e ''brincar comigo''...
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- Sim, claro - suspirou Cirus, ficando genuinamente vermelho pelo último comentário da garota - Porém, o Alexander por acaso te disse o por que de tanta alegria naquela noite?
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- Ele estava comemorando - continuou a garota, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo - Ao que parece, o tutor do estágio dele iria chamá-lo para se tornar fixo no hospital...
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- O Dr. Biel?
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- É, esse cara mesmo - disse Suzana, como se eu tivesse acabado de insultar a mãe dela - Não é engraçado que, no mesmo dia em que ele ofereceu o emprego dos sonhos para o Alex, os merdinhas dos filhos dele tenham feito o favor de matar o meu namorado?
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Não, eu não achava nem um pouco engraçado.
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E confesso que tive que me controlar bastante para não dar uma de minha tia e avançar em cima daquela idiota naquele instante. Sim... pois o estúpido do Morton é quem pega no volante mais alto do que uma girafa, e a culpa de tudo é dos gêmeos; fazia todo o sentido.
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- Mas a vida é feita de momentos engraçados - prosseguiu a menina, seu par de olhos azuis fixos em mim, sua voz soando cada vez mais amarga - Em um minuto, estou recusando pela décima oitava vez o pedido de casamento dele; no outro, tudo o que eu escuto são pneus de carro cantando e o barulho de metal se espatifando no asfalto...
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Nem Cirus nem Angel trocaram palavra alguma.
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Todos sabíamos que aquele era o grande momento de Suzana N. Lenisky. Ela iria desabafar tudo o que escondeu para si própria nos últimos dois meses... E nós finalmente iríamos entender, por menos que fosse, a obsessão vingativa de Alexander Morton por Líon e Serina Biel.
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''Eu nunca gritei tanto quanto naquela noite...
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Acho que chorei sem parar durante uma semana inteira. Todas as vezes que eu me deitava na cama e me preparava para dormir, as lembranças escruciantes dos sons do acidente imundavam a minha mente. Eu não comia, não bebia e não saia do meu quarto para nada. Eu sabia que estava definhando só de ver as expressões que os meus pais faziam quando tentavam conversar comigo.
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O que é estranho, por que eu gostava daquilo...
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Gostava de ver que o meu sofrimento fazia os outros sofrerem também. Gostava de saber que não estava sozinha naquilo - por mais que possa parecer loucura.''
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Por um milissegundo, congelei aonde estava, imaginando que Angel fosse fazer algum comentário estúpido sobre o que Suzana havia acabado de confessar. Mas, ao ver a expressão dura de meu pai, acho que ela pensou duas vezes antes de dizer qualquer tipo de bobagem.
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''Eu não fui no funeral, nem no enterro'', continuou ela, suas mãos acariciando distraidamente a capa negra do velho diário ao seu lado, ''Aquele lugar estava cheia de hipócritas. Ninguém conhecia o Alex como eu. Ninguém se importava com ele, apoiava tudo o que ele fazia, como eu...
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... e fui eu à primeira pessoa que ele escolheu para vê-lo renovado.''
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Mais uma longa pausa.
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Eu não sabia sobre o que ela queria dizer com ''renovado'', mas quando o assunto em questão era Alexander Morton, apostava tudo o que tinha que não deveria ser nada bom.
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- Suzana - disse o meu pai, cruzando os dedos das mãos e os levando para a ponta de seu queixo - Quando foi que o Alexander apareceu para você pela primeira vez?... O que foi que ele queria lhe falar?
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A garota encarou Cirus com um estranho brilho no olhar. Eu podia sentir a excitação doentia que ela irradiava se espalhar como um gás tóxico por todo o cômodo.
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''Sete dias.
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Este foi o tempo que levei para reencontrar o Alex.
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Eu estava deitada em minha cama, querendo que tudo acabasse... E foi aí que eu senti que estava sendo observada. Já era tarde da noite, e não se podia escutar uma alma viva. Olhei para janela e não vi nada. Quando me virei, lá estava ele, jogado sobre as minhas cobertas - me espiando, como sempre fazia.
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Minha nossa, foi táo maravilhoso. Tão... Surreal!
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Em nenhum momento pensei em gritar.
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Eu só queria tocá-lo de novo. Beijá-lo, e senti-lo dentro de mim.''
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- Será que podemos cortar as partes proibidas para menores? - perguntou Angel, seu rosto tomado por nojo e reprovação.
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Suzana olhou para minha tia com uma expressão de raiva controlada, mas acabou fazendo o que ela pedia.
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''Quando terminamos de matar as saudades, eu perguntei o que estava acontecendo. Afinal, como ele poderia estar no meu quarto?
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Foi aí que o Alex me disse que não sabia como, mas ele de alguma forma havia enganara a morte. Ao invés de se perder junto com o seu corpo, ele continuava ''vivendo''. E o melhor: podia fazer coisas que nunca poderíamos imaginar serem possíveis...
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... até agora.''
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Mais uma vez, a garota tocou o seu pescoço e, sem disfarçar o rancor, dirigiu à tia Angelina o seu olhar mais sombrio.
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- Foi só isso que ele falou? - inquiriu o meu pai, tentando amenizar a tensão entre as duas.
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- Não... é claro que não - respondeu a garota, um sorriso malvado bricando em seus lábios - Ele disse que iria atrás dos bastardos que mataram ele... e depois, iria voltar para me buscar.
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- Claro - resfolegou Angel, colocando-se de pé e cerrando suas mãos em punho - Isto foi antes de você dar com a lingua nos dentes para os seus pais e eles perceberem a doida psicótica que haviam criado!
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- Já temos o suficiente - disse Cirus para mim, colocando-se apressado na frente de Suzana e puxando minha tia na direção da porta.
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- Ele vai me encontrar! Eu sei disto - gritou a menina, seu rosto ilumiando de um triunfo perturbado - E nós vamos fugir deste Inferno. Nada vai nos deter!
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Antes de sair do cômodo, me detive em frente da cama e observei o diário que estava jogado ao lado de Suzana. Algo dentro de mim me impelia até ele, tão poderoso quanto ímãs de poralidades diferentes. Eu precisava vê-lo. Eu precisava saber o que aquelas páginas escondiam - só não entendia por quê.
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- Vamos logo, Adrian! - esbravejou Angel, sua voz enraivecida já vindo do corredor.
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Não perdendo tempo, girei em meus calcanhares e segui à passos largos o caminho que os dois haviam tomado.
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Quando atingimos a entrada do Hospital Psiquiátrico, a chuva tinha dado uma trégua. Mesmo assim, corremos para dentro do Mustang e partimos sem demora, como se o ''dilúvio'' que caia mais cedo continuasse.
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Pelo resto da viajem, nós três mantivemos o silêncio da ida. Cirus estava perdido em pensamentos e Angel continuava furiosa demais para falar qualquer coisa. Por mim, a quietude estava ótima. Só assim eu colocava as coisas no seu devido lugar, sem ninguém me interrompendo.
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...Acho que chorei sem parar durante uma semana inteira. Todas as vezes que eu me deitava na cama e me preparava para dormir, as lembranças escruciantes dos sons do acidente imundavam a minha mente. Eu não comia, não bebia e não saia do meu quarto para nada.
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O depoimento de Suzana não me saia da cabeça. A cada respiração minha, as palavras me voltavam com força à mente, e eu sentia todo o meu corpo se enrijecer. Assim como fizera com a própria namorada, Alexander Morton estava obrigando Líon e Serina à se escoderem do mundo. E depois de ver o estado atual que a garota se encontrava, eu não podia deixar aquela situação continuar.
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Eu tinha que fazer alguma coisa.
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- Então - suspirou meu pai, suas atenções ainda voltadas para o trânsito - O que vamos fazer agora?
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Como que por encanto, me lembrei da folha timbrada que jazia amarrotada ao lado do meu cavalete. Na mesma hora, percebi que tirar os irmãos Biel de seu confinamento seria mais fácil do que eu pensava.
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- Tenho uma ótima idéia - respondi, me obrigando pela primeira vez a agradecer Oliver Nigro por suas armações estúpidas.
Oiê, estou começando a acompanhar sua história
ResponderExcluirConfesso q adorei... muito boa mesmo!
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Ah, que bom reler isso aqui!!!
ResponderExcluirAdoro essa sensação de quero mais, mas por favor, não deixe ela se esvair...
Bj grande!!!
Olá gostaria de saber se vc está interessado em uma parceria com meu blog.
ResponderExcluirAguardo resposta via e-mail: alefdallepiagge@gmail.com
o endereço do blog é adpiagge.blogspot.com
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Comecei a ler o livro agora, estou no cpitulo nove...
ResponderExcluirEspero que você coninue a escrever, pois voocê escreve muito bem, e não é plagio...
Desejo muita boa sorte e que você escreva mais e mais, para agradr suas fãs..